Acerca de mim

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Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou maduro bastante ainda. Ou nunca serei.

sábado, 27 de abril de 2013

No final?você vai chorar.

Houve um tempo em que eu acreditava em tudo. Em mentiras, em promessas, em destino feito por nós mesmos, em estrelas cadentes, em sorte e azar. Mas uma pessoa mudou isso em mim. Mudou o que eu pensava sobre tudo, minha visão sobre o mundo. Mudou meus planos, meus princípios e verdades, meus desejos e vontades. Mudou minha vida, mudou-me. Eu acreditava que nós fazíamos o que quiséssemos, mas aprendi que nada é por acaso. Tudo acontece por uma razão. Ele era uma pessoa comum, no início. Não era importante, não fazia falta, mas isso mudou, e talvez tenha sido a melhor coisa que já me aconteceu… Eu passava por ele, na rua ou noutro lugar qualquer e o cumprimentava apenas por educação. Era quase todo dia, em quase todo lugar e eu já estava acostumada com sua presença. É assim que uma amizade começa, mas não foi assim que terminou. Dávamos as mãos, como um gesto simples de carinho, que para nós era comum. Abraçávamos sem malícia. Conversávamos sobre toda e qualquer coisa. Frequentávamos um a casa do outro, sempre. Todos comentavam e estranhavam, mas nós não nos importávamos. Certo dia, depois de tantas conversas, ele me perguntou algo que nunca havia perguntado. Assustei-me, não com a pergunta, mas com a forma como perguntou. Ele costumava falar num tom de voz baixo, mas sussurrou a pergunta, com a cabeça baixa, sendo que tinha o costume de olhar nos olhos da pessoa com quem conversava, quem quer que fosse ela. Ele perguntou-me se eu já tinha amado alguém. Era estranho, pois não havia nada que ele não soubesse sobre mim, pensava eu. Apesar de estar espantada, minha resposta foi sincera e tímida. “Não”, eu disse, observando seu rosto. Ele gemeu alguma coisa que eu não percebi. Eu observei-o por uns longos minutos. Queria que aquela imagem ficasse para sempre em minha memória. Como é que eu nunca olhei para ele assim? Alguma vez procurei imperfeições nele, e não encontrei? Como é que eu nunca notei a pinta que ele tinha no queixo, suas sardas claras, o formato da sua boca ou a mistura de verde e caramelo que os seus olhos tinham? Como é que eu nunca notei sua beleza? Ele era lindo. Incrível e sobretudo lindo. Queria ficar ali, para sempre, olhando-o sob a luz clara do luar. Suas bochechas coraram, e eu percebi que aquele silêncio já estava constrangedor. Foi difícil ir embora, mas eu fui. Quando cheguei em casa, naquela noite, subi as escadas sem hesitar na porta e fui direta ao quarto. Imersa em pensamentos, deitei na cama, afundando o rosto na almofada. O que estava a acontecer comigo? Senti a necessidade de ouvir a resposta de alguma pessoa. Do meu melhor amigo, talvez. Peguei o telefone e digitei o número sem hesitar. Ele atendeu rapidamente, com a voz rouca. Eu não disse nada. Algo na voz dele me imobilizou. Ele também não disse nada. Até o som do silêncio eu podia ouvir; era constrangedor. Eu quase podia ouvir os seus pensamentos, junto da sua respiração. Queria perguntar mil e uma coisas, mas um nó se formou em minha garganta. Depois de alguns minutos, consegui falar. “Como é amar?”, Perguntei num sussurro fraco e rouco. Foi meio estranho perguntar. Um silêncio cruel e doloroso preencheu o ar. Queria acreditar que o som que rompeu esse silêncio, não era o som de suas lágrimas. Alguns outros minutos de silêncio se seguiram. “Ouvi falar que é estranho. E realmente é…”, ele começou. Esperei. “Ouvi falar que nós perdemos o chão, que é como se um abismo tivesse aberto debaixo dos nossos pés…”, completou. Ele parecia mais seguro agora. “E é assim?”, Perguntei. “Comigo foi diferente. Foi como se, pela primeira vez, o chão estivesse ali. Como se eu soubesse que poderia caminhar sem que nada me derrubasse.” Fiquei em choque, sem conseguir dizer muita coisa. “Quem é ela?”, Arrependi-me de ter perguntado. Ele soltou um suspiro pesado. Pude sentir a dor dele. Nós tínhamos algum tipo de conexão. Se ele sofria, eu sofria também e vice-versa. Não tinha como evitar. Silêncio. Novamente. Mais um suspiro e percebi que ele não iria responder. Enfim, ele desligou. Meus joelhos cederam e as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Não tentei controlar, apenas voltei para a cama e abracei a minha almofada. Percebi, então, que não era a almofada que eu sentia necessidade de abraçar. Eu não tinha ideia do que estava acontecer comigo. Queria tê-lo por perto, para que ele pudesse abraçar-me e confortar, com uma intensidade que nunca desejei antes. Eu já estive apaixonada antes, mas nunca foi assim, tão forte que me fez chorar. A vontade de tê-lo comigo, quase me fez levantar e ir rapidamente atrás dele. E então eu adormeci. No outro dia, acordei com olheiras profundas e pesadas. Havíamos combinado que nos veríamos nesse dia, como de costume. Eu estava tão feliz, tão animada com a ideia de que iria velo novamente que, depois de passar horas em frente ao espelho, achei que estava realmente bonita. Mas ele não apareceu. Esperei por alguns minutos. Nada de ele chegar. Eu não conseguia acreditar que ele não estava ali. Só conseguia pensar se alguma coisa tinha acontecido. Ele não teria esquecido, nem fez isso para me magoar. Liguei para ele. Ele não atendeu. Estava começando a me preocupar, então liguei na casa dele. Sua mãe atendeu, e me disse que ele tinha saído algumas horas atrás; nervoso e sem dizer para onde ia. Só havia dois lugares para onde ele ia quando estava nervoso. Para a minha casa ou para um prédio abandonado, onde ele gostava de ir para pensar. Se ele não estava comigo, ele só podia estar lá. Fui até lá, sem pensar em outras hipóteses. Quando cheguei me senti aliviada por encontrá-lo. Ele estava de costas e não me viu. Queria aproximar-me e perguntar o que estava a acontecer, mas não disse nada, apenas fiquei parada a olhar para ele. Ele ficou de pé, depois se virou para mim. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Era quase impossível controlar o impulso de correr e abraçá-lo. Quando dei alguns passos à frente, ele ergueu a mão direita, como se estivesse a pedir para eu parar, e então parei. “Não podemos mais nos ver”, sussurrou, tão baixo que foi difícil ouvir. Talvez tenha sido difícil pelo fato de eu não querer ouvir. Demorei uns longos minutos para digerir aquelas palavras e a forma como ele disse num tom de voz frio e cuel. “Você não me verá mais. Eu prometo”, continuou, com o mesmo tom de voz. “Não! Por favor, não!”, Tentei gritar, mas o nó que se formou em minha garganta impediu que minha voz saísse no tom de voz que eu queria. Disparei em sua direção, envolvendo-o nos meus braços com a maior força que pude. Eu estava a chorar. Ele não disse nada, e eu daria tudo para saber o que ele estava a pensar. “Por favor, não faça isso”, sussurrou com a voz rouca, entre soluços pesados. Eu não tinha ideia do que ele queria dizer, mas não me importava com quaisquer que fossem suas intenções. Eu não me afastava dele. Então seus joelhos cederam e ele caiu ao chão, ao lado dos meus pés. “Me diga o que aconteceu, quero-te ajudar, por favor, deixe-me ajudá-lo”, eu disse, baixo, mas ele ouviu. Ele não me respondeu, e ainda soluçava. “Eu preciso que você me diga”, insisti. Ele se levantou com muito esforço, olhou nos meus olhos e segurou nas minhas mãos com força. Alguns minutos se passaram até que ele falasse. Meu coração parou por um instante, depois acelerou desesperadamente. Se um coração ao se partir emitisse algum som, acho que aquele era o som. As palavras que surgiram-se, como o som de um vidro ao quebrar. “Eu…” . Hesitou por alguns segundos “… Eu amo você. É por você que eu ainda estou vivo, mas acho que isso já é óbvio. Eu peço-lhe, que, para o seu melhor, se afaste de mim”. Já sentiu-se como tivesse muitas coisas para dizer e mesmo assim não conseguisse dizer nada? Eu estava assim. Perplexa. Paralisada. Imóvel. Então era a mim que ele amava? Desde quando? Como? Ele percebeu entender os meus pensamentos, pois respondeu rapidamente. “Eu não sei como ou quando aconteceu, mas aconteceu, e agora eu estou aqui, envolvendo-te cada vez mais nisto e pedindo-te para afastar-se de mim. Será melhor para você”. Por quê? Por que ele estava a dizer aquilo? Inspirei e expirei algumas vezes, para me acalmar. Não adiantou. “Você não quer isso… Se afastar de mim. Você não quer…”, consegui, enfim, dizer. Não era uma pergunta. Ele virou o rosto, sem conseguir olharz nos meus olhos de novo. “Não…”, sussurrou. “… E talvez esse seja meu lado cruel”. Eu não queria que ele sentisse-se daquele modo, queria fazer alguma coisa para acabar com a dor que ele sente. Porque é que eu senti vontade de correr e saltar daquele prédio? Porque é que o meu coração doía tanto? Porque é que eu estava a sentir-me daquele modo? O que é que eu estava sentindo, afinal? Abracei-o com força, mas ele lutava para se desprender dos meus braços. Eu queria que ele estivesse sempre ali, abraçado ao meu peito, para tentar acalmá-lo e desejei que ele nunca fosse embora. A ideia de sua partida fez-me derramar lágrimas, novamente. “Eu nunca vou-te deixar, nunca! Entendeu seu idiota? Não vou deixar você ir assim”. Ele não fez piada daquilo, mas parou de lutar. Olhou nos meus olhos, o que fez-me tremer. Segurei no seu rosto entre as minhas mãos, acariciando-o por um instante, depois aproximou o seu rosto do meu. O contato de nossas peles fez-me tremer. Segundos depois senti seus lábios nos meus; eram quentes e doces. O sabor mais doce de todos os beijos. Não queria que aquele momento nunca acabasse. E quando afastou-se, forçou um sorriso e disse, com a voz fina e baixa, “adeus”. Não o vi sair, as minhas pernas prenderam-se no chão. O que estávamos a fazer? Não devíamos ter feito aquilo, não era certo. Eu não deveria ter gostado daquele beijo. Nos dias que se seguiram, não voltamos a falar. Quando eu telefonava, ele não me atendia e, quando fui até sua casa, não havia ninguém. Pouco menos de uma semana após sua confissão, uma notícia fez com que eu ficasse triste. Eu estava em casa, a pensar a onde é que ele poderia estar, quando a minha mãe veio conversar comigo, com os olhos cheios de lágrimas e com uma expressão de dor. Tentei imaginar o que era, e quando ela me disse, senti muitas coisas ao mesmo tempo. Dor, surpresa, preocupação, saudade, e mais dor. Foi um impacto muito forte. Disparei pela porta e, sem pensar duas vezes, fui direto ao Hospital, onde, segundo ela, ele estava. Quando cheguei, o desespero infiltrou-se pelo meu corpo. Eu já não sabia o que pensar, ou o que devia fazer, mesmo assim entrei. Tentando controlar-me, fui até a receção e perguntei por ele, dando à rececionista o seu nome. Ela indicou-me o número do quarto e disse que talvez ele não pudesse receber visitas. Não me importava, eu precisava vê-lo. Procurei o quarto, e, assim que o encontrei, bati na porta. Ninguém abriu. Bati novamente e abri a porta. Ainda sem entrar, olhei o quarto e não havia ninguém além dele. Entrei. Ele estava lá, de costas para mim. Eu estava á espera que ele estivesse acordado, então ele se mexeu. Ele olhou por sobre o ombro, depois abaixou a cabeça novamente. “Sabia que não demoraria a encontrar-me”, disse, com a voz mais baixa do que de costume. “Por que você está aqui?”, Perguntei. “Muitos motivos…”, sua voz falhava. Fui até ele e sentei-me á sua frente, para que conseguisse ver o seu rosto. Ele olhou-me por alguns segundos, depois fechou os olhos. Seu corpo estava cheio de hematomas, manchas escuras. Talvez ele não quisesse dizer-me, mas eu precisava que ele dissesse-me. “Você não está bem, não é?”, Perguntei, sabendo que a resposta era não. Ele abriu os olhos e sorriu. Seu sorriso acendeu uma espécie de calor em mim, como se aquilo fosse parte vital de mim. Dei a volta na cama e deitei-me do seu lado, pondo a mão na sua cintura. Ele segurou na minha mão e, assim que o fez eu percebi que sua pele estava muito fria. Pude perceber, também, que ele respirava com dificuldade. Eu não queria acreditar no que estava a acontecer. “Eu vou morrer”, ele disse num tom de voz totalmente frio. Eu estava a chorar, de novo. “Não, você não vai. Não vou deixar isso acontecer”, tentei dizer, lutando para engolir o nó na minha garganta. Ele riu, o que fez-me chorar ainda mais. “Você terá que aprender a viver sem mim garota…”, percebi que ele estava sorrindo, como se achasse graça de tudo aquilo que estava a acontecer. Aquilo irritou-me um pouco, mas não disse nada. Seu corpo enrijeceu por um momento, depois tremeu, o que me assustou um pouco. “Isso é normal”, ele disse, como se tivesse lido os meus pensamentos outra vez. “Foi por isso que você me pediu para que eu afastasse de você?”, Perguntei. Ele não respondeu. Seu silêncio era constrangedor. O único barulho que podíamos ouvir era o dos aparelhos ao seu lado. “Vou sair daqui amanhã”, disse ele, depois de tanto tempo em silêncio. Quase me animei. “Quero ir para casa, ficar perto da minha família”. Esse foi o limite do meu ânimo, quando entendi o que ele queria dizer. Não questionei, apenas o abracei com mais força. E foi assim que aquele dia se seguiu. Fiquei lá até um pouco depois de ele ter adormecido. Eu chorava só de olhar para ele, só de pensar em perdê-lo. A sua mãe estava lá também e, por esse motivo, consegui ir para casa. Eu não pensava em nada mais, o dia todo. Eu só saía daquele Hospital quando ia para casa, à noite. Não conseguia imaginar minha vida sem ele. No dia que ele foi para casa, todos foram ao Hospital. Amigos, familiares, conhecidos, etc. Muita gente gostava dele, ele era uma pessoa muito especial. Ele teve um pouco de dificuldade para caminhar até o carro, e a sua mãe estava ao seu lado, como apoio. Ver aquela cena me fez perceber o quanto eu o amava, o quanto importante ele era para mim e o quanto eu queria que ele ficasse aqui, neste mundo. Quando ele voltou para casa, quase nada tinha mudado entre nós. Era quase como antes, nós ainda discutíamos um ao outro, discutíamos sobre seu gosto musical e ele ainda criticava o meu cabelo que cobria meu olho. Era bom tê-lo comigo, fazê-lo sorrir enquanto podia. Eu sentia como se tivesse um prazo de vida. Não só da dele, mas também da minha. Parecia que não existia vida sem ele. Acho que fomos “levando” a situação. Um dia, depois de eu ter criticado a música que ele estava a ouvir, ele parou, me olhou e sorriu como na noite em que eu descobri que o amava. “O que foi?”, Perguntei constrangida. “Vou sentir sua falta, onde quer que eu esteja”. Retribuí o sorriso e, por mais que já estivesse acostumada com as lágrimas, senti o meu coração apertar com cada lágrima que eu derramava. Na manhã seguinte recebi um telefonema de sua mãe. Ele havia piorado, e foi levado novamente para o Hospital. Fui para lá assim que soube. Quando o vi, meu coração disparou. Ele mal conseguia falar, então não exigi esforços dele. Fiquei sentada do seu lado, falando com ele, sem esperar resposta. Eu estava falando com ele, sobre as coisas do nosso passado, quando ele interrompeu-me. “Você fica linda quando prende o cabelo”, disse ele, sorrindo. Sabia que ele tinha reparado no meu cabelo, só não esperava que ele falasse disso. Reprimi o riso e apenas sorri para ele. Ele segurou minha mão e a apertou, usando a maior força que pôde. Beijei a sua testa, depois os seus lábios. Ele sorriu. Ele pediu-me para que eu cantasse uma música para ele e, apesar de eu não gostar daquele estilo de música, sussurrei-a no seu ouvido. Então ele fechou os olhos… e nunca mais os abriu. Ele faleceu naquela noite, nos meus braços. Parece horrível, eu sei, mas para mim não foi. Foi como se eu o estivesse a adormecer durante a noite, e ele estivesse num sono profundo. Eu sei que ele estava feliz nos meus braços, e eu também estava feliz. Foi difícil para mim, deixá-lo ir, mas agora é como se ele nunca tivesse partido. E quando me perguntam onde é que está o meu amor, eu sempre respondo da mesma maneira e a mesma coisa: “Independente de onde ele estiver, ele está esperando e a olhar por mim, e o nosso amor estará para sempre vivo nos corações daqueles que fizeram parte dessa história. Eu sinto que ele ainda está em mim, e para sempre estará”.

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